Monday, September 14, 2009

Untitled.

No mesmo lugar, à mesma hora. Ela esperava pacientemente que o clarão de luz invadisse o sombrio espaço onde se encontrava, denunciando a presença de alguém. Era uma espécie de ritual. Um ritual que se tornava insignificante à medida que o tempo passava. Em cada momento pautado pelo girar frenético dos ponteiros do relógio.

A espera deixou de ser paciente. O ar era demasiado rarefeito. Estava cansada de afagar os seus cabelos em busca de consolo. Estava exausta de bebericar o líquido espesso do seu copo. Levantou-se repentinamente derrubando tudo à sua passagem. A cólera invadiu-a secretamente sem que ela tivesse oportunidade de a persuadir. No seu acesso fugaz de raiva, ela caminhava firmemente, intocável e inabalável. A inexistência de rumo começava a corroer o seu interior.

E eis que de forma instantânea tudo muda.

As lágrimas brotam e percorrem o seu rosto fatigado e traído. O sol irradia-a. A nostalgia atormenta-a. Os seus pés começam a percorrer um pequeno tufo de erva que a conduz a um velho banco de jardim. Aí deita-se desesperada. Num sofrimento exageradamente retratado no seu choro compulsivo. Os seus sonhos eram demasiado utópicos, o que a entristecia. E essa realidade atingia-a como um soco quando a sua infelicidade alcançava o auge. Uma infelicidade que no fundo se revelava relativa. Como o clarão que nunca aparecia, como a sua estranha existência. Tudo era tão relativo.